segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pomba!

Uma vez pedi um “piccione arrosto” num restaurante em Assis, na Itália, e imaginei que aquele pombo podia muito bem ser um descendente direto dos pássaros que conversavam com São Francisco. Mastiguei-o com mais gosto. Não sei o que as pombas diziam ao santo homem caráter. Profrissionais de Relaçõesa Públicas devem venerar as pombas, pois são o maior exemplo conhecido do triunfo de RP sobre a realidade. São animais lamentáveis,  portadores de doenças e poluidores, mas construíram uma reputação de beleza e virtude que resiste aos séculos. Desde os tempos bíblicos. Foi uma pomba lamçada por Noé da arca que trouxe o ramo de oliveira, provando que o dilúvio chegava ao fim. Quando Noé a lançou de novo para guiar a arca para a terra seca ela, calhordamente, sumiu, mas essa parte da história é pouco lembrada pelos seus fãs. Fartamente paparicadas e poupadas –a não ser por quem, sensatamente, as pega, cozinha e come com polenta – as pombas transformaram-se em pragas urbanas. Em lugares de muito turista elas andam no meio da multidão com uma empáfia de sultão, e acrescetan a arrogância a todas as suas outras antipatias – sem falar no cocô que espalham por toda parte, inclusive nossa cabeça, em escala industrioal. E no entanto são símblos de pureza, símbolo de inocência e paz. Tudo RP.

Mas por que foi que eu comecei a falar em pombas? Queria falar sobre outro assunto alado, os problemas da nossa aviação civil. Essa questão que há meses está no ar, quando não está presa no aeroporto. Dizem que a primeira condição para saborear uma lingüiça é não saber como ela é feita. Se soubéssemos, nunca a comeríamos. De uns tempos para cá descobrimos como funciona o controle dos vôo no espaço aéreo brasileiro – e foi como nos atiraremde ponta-cabeça num calderão de recheio de embutidos repleto de unhas e cabelo de rato. Eu preferia a ignorância. A analogia só não é completa porque você pode parar de comer longuça ou cuidar para só comer lingüiça feita na sua frente, com ingredientes nobres e, de preferência, por alguêm da famíla, mas não pode parar de voar ou escolher como vai ser controlado o seu vôo. É pensar que todo esse tempo estivemos voando sobre esse abismo de  intrigas, ressentiementos, precariedade, incompetência, unhas e cabelos de rato sem saber de nada. O fato de não ter havido mais acidentes aéreos no Brasil só pode ser atribuido a boa vontade de Deus ou ao Lobby dos Santos Dumond.

Há culpa suficiente nessa vergonha toda para repartir entre governo, Aeronáutica r todos que a escondem ou ignoram. Não vão se recuperar tão cedo. Anão ser que contratem o RP das pombas.

Luiz Fernando Verissimo

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